Moradores de dois bairros da cidade, um da Zona Oeste e outro da Zona Norte, relatam que lixeiros, funcionários da Revita, empresa responsável pela coleta de lixo da cidade, cobram dinheiro e pedem comida para recolher os resíduos em frente às casas. Um flagrante do pedido de propina foi registrado pela reportagem do Diário, na última terça-feira, na Rua Belém, no Parque Pinheiro Machado.
Segundo os moradores dessa rua, pedidos de refrigerante e dinheiro para lanche são corriqueiros. Conforme aos relatos, a prática já acontece há bastante tempo, mas tem sido mais frequente nos últimos cinco anos. Os pedidos vão de um refrigerante até dinheiro.
Eles batem palma na frente da casa para pedir. Se a gente nega, rasgam sacos no meio da rua ou não recolhem afirma o marceneiro Gilson Pillar, 35 anos, morador da Rua Belém.
No vídeo captado pela reportagem, ao chegar em frente a uma casa, um lixeiro pede: me vê um dinheiro. O morador responde: dinheiro? Mas estão sempre pedindo dinheiro! Em um outro vídeo feito por um morador, o lixeiro pede um refrigerante. Ao receber a resposta negativa, fala que não pode levar os sacos e os dois discutem. O motorista do caminhão desce e recolhe os sacos, enquanto o lixeiro que pediu o refrigerante e seu colega seguem a discussão com o morador. Quem vive na Rua Belém, afirma que as atitudes são recorrentes:
Onde tem bastante lixo é um problema, eles começam a dificultar para levar os sacos se não recebem nada. Teve uma vez que dei dinheiro e ele achou pouco garante o empresário Darlan Lenherd, 42.
O caminhão passa na Rua Belém três vezes por semana.
Quando eu vejo que eles estão vindo, vou lá para dentro. Não me importo de dar uma água, mas dinheiro e lanche toda hora, não salienta o morador e comerciante Daniel Canabarro, 40 anos.
Um dia após o flagrante feito pela reportagem, os moradores da Belém relataram que, diante da negativa em dar a propina, o lixo não foi coletado:
Já pagamos imposto para ter coleta de lixo. Se em cada rua eles ganham R$ 10, imagina o que não ganham? questiona o motorista Eron Debus, 42 anos.
Outra denúncia de pedidos recorrentes de dinheiro e comida foi feita por moradores da Rua Borges do Canto, no Perpétuo Socorro:
Eles pedem, mas damos numa boa. Nunca deixaram de levar o lixo. Mas existem os pedidos doz a dona de casa Rita Alves, 49 anos.
Conforme o advogado João Marcos Adede y Castro, a prática se caracteriza como extorsão, ou seja, constrange alguém para obter para si alguma vantagem econômica indevida. Popularmente, é conhecida como propina.
Propina teria motivado demissões em janeiro
De acordo com a prefeitura, a empresa Revita, responsável pela coleta de lixo em Santa Maria, havia demitido alguns funcionários no mês de janeiro por causa de denúncias envolvendo a cobrança de dinheiro de moradores. Conforme o secretário de Meio Ambiente do município, Antônio Carlos Lemos, a prefeitura não tinha conhecimento desses casos de propina revelados pelos moradores das ruas Belém e Borges do Canto.
Sabemos que existem doações espontâneas de algumas pessoas, mas a cobrança sistemática é um exagero. Vamos pedir explicações para a empresa salienta Lemos.
O secretário pede que as denúncias sejam feitas com a identificação do morador, endereço e número do caminhão que realiza a coleta. O telefone é (55) 3921-7151.
Em dezembro, a Revita recebeu uma multa no valor de R$ 67 mil por problemas na coleta. Na última quarta-feira, o secretário de Meio Ambiente encaminhou o pedido para a abertura de nova licitação. Atualmente, a prefeitura paga R$ 1 milhão por mês à Revita pela prestação de serviço, e o contrato encerra em 31 de julho.
Desde a semana passada, o Diário tenta, mas não con"